Nova Cartografia Social Da Amazônia

NOTA DE PESAR – PEDRO RAMOS DE SOUSA


Pedro Ramos de Souza e Manoel Domingos Lopes debatem o significado político da RESEX rio Cajari

 

Pedro Ramos de Sousa nos deixou neste 11 de dezembro de 2023   e queremos despedirmos   com a recordação de vários momentos em que juntos estivemos para montar, construir e especialmente dar conteúdos às práticas do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.  Os encontros com o senhor Pedro Ramos de Sousa foram tempos de diálogos em que ouvimos os relatos de suas experiências de luta no Amapá o que nos anos da ditadura civil militar o obrigaram a sair do Brasil – Guiana Francesa, França. Muitas andanças não foram indicadas nessas conversações, apenas estavam sendo recordadas as vivências que não foram fugazes. O seu regresso ao Brasil significou somar com suas ideias políticas e ações no Conselho Nacional dos Seringueiros (1985) estreitando relações com os seringueiros do Acre que mencionava nas suas falas com reconhecimento –  Chico Mendes, assassinado em 1988 e Wilson Sousa  Pinheiro,  igualmente  assassinado em Brasileia em 1980.

A ação política que coordenou junto aos extrativistas no Amapá para a criação da  Reserva  Extrativista do Rio Cajari  –  teve sucesso com a sua criação em 1990 e acompanhou com dedicação as fases seguintes. Esse percurso da Resex Cajari foi em parte objeto de descrição durante a oficina de mapeamento social  realizada  em 2013-2014  e que  consta no  Fascículo Extrativistas da RESEX Rio Cajari em ação, Amapá, 24. As invasões por fazendeiros da Resex, a criação de búfalos que se expande,  a destruição da floresta  pela ação do fogo,  a perda dos açaizais  constituem o eixo das descrições e sumarizam a reivindicação pela  demarcação dessa unidade de conservação.

Esse fascículo abre com uma expressão pedagógica sobre a ação de cartografar na qual se envolveram os participantes da oficina: “Aqui nós não vamos resolver problemas, mas construir instrumentos para nos ajudar a resolver problemas. Problemas que a gente tem, a gente não vai resolver. Vai criar instrumentos que vai nos ajudar lá pra frente ou talvez até amanhã esteja ajudando ou depois de amanhã e isso no meu entendimento é bom pra todos nós, porque muitas das vezes a gente se pega nos nossos limites de conhecimento, a gente quer fazer as coisas, mas não sabe como fazer. Então, são os limites que a gente tem, que o conhecimento pode nos permitir a fazer essas ações, a resolver melhor os nossos problemas”. PEDRO RAMOS DE SOUSA.

 

Queremos recordar especialmente  ao senhor Pedro Ramos de Sousa  como o “piá”,  termo que usava em tom afetuoso.  Os pesquisadores do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia somos gratos ao senhor Pedro Ramos de Sousa por suas lições de  solidariedade,  de luta e de dignidade.   Nossas condolências aos seus familiares, discípulos e companheiros de luta pela floresta

Artigo anteriorNOTA DE PESAR Próximo artigoDona Nice, Liderança Quilombola, é uma das homenageadas do Prêmio Chico Mendes de Resistência 2023