Tempos apocalípticos anunciam a sucessão de pandemias como um novo normal. Mas que não alcançará todos os grupos sociais e territórios com a mesma intensidade. Este livro traz um poderoso testemunho de que tal já se pode vislumbrar em eventos presentes.

No livro Pandemia e Território lê-se a frase acima de autoria do professor Otávio Velho que, em parte, se alinha com as proposições dos autores e organizadores a propósito das práticas e exercícios etnográficos realizados ativamente no primeiro semestre da pandemia da Covid 19. Trata-se de formas de observar, ouvir, ver, narrar, descrever, refletir, viver, compartilhar e pensar o evento pandêmico, em territórios enunciados como plurais e políticos.

A coletânea formulou reflexões a partir de pelo menos dois blocos de questões iniciais, a saber:

1. em tempos do COVID-19, os mecanismos de controle social e de dominação política se concentram nas agências e nos dispositivos vinculados à saúde pública. As relações de poder objetivam o controle dos recursos mobilizados para este setor durante a pandemia. Isto propicia condições de relevância da questão nas pautas midiáticas e abre uma nova arena de ácidas disputas políticas por recursos públicos. Haja vista a abertura de inúmeros processos jurídicos para apurar suspeitas de corrupção em licitações destinadas a apreciar propostas voltadas para a construção de hospitais de campanha e/ou para a aquisição dos equipamentos médicos necessários à implementação de UTIs. Quais os efeitos disto nas comunidades em que estamos desenvolvendo trabalhos de pesquisa, levando em conta o intervalo de tempo entre março e julho de 2020 e a duração da pandemia?
2. A biopolítica através dos biopoderes locais se ocupa da gestão da saúde, da higiene, da alimentação, da sexualidade e da natalidade na medida em que eles se tornam objeto de perdas ou ganhos políticos. Bio-poder seria aquele domínio da vida sobre o qual o poder estabeleceu o controle, diria Mbembe, logo no início de Necropolítica, a respeito da definição de Foucault. Neste período de pandemia os postos relativos à mencionada gestão da saúde tornam-se, portanto, alvos de lutas faccionais, instituindo um complexo “território da política”. A escolha de um Ministro da Saúde e de um secretário estadual ou municipal de saúde, assim como a eleição de um dirigente de um DSEI, tornam-se um objeto privilegiado das relações de poder. Está-se diante, portanto, de uma tecnologia de poder que visa o controle não somente de indivíduos, por meio de procedimentos disciplinares das e de atos triviais de higiene, mas do conjunto daqueles que constituem a “população”, objetivando assegurar um aprimoramento da modalidade de gestão da força de trabalho. O significado de biopolítica representaria, segundo Foucault, um momento de passagem desta dimensão político-organizativa à dimensão ética. Como interpretar estes processos políticos convertidos em fatores éticos e as estratégias adotadas pelos governos, através de unidades discursivas e atos de Estado? Em que medida as iniciativas de compreensão do fenômeno da pandemia se acham referidas a uma racionalidade política, de fundamento liberal, e a uma ética singular?

Retomando o fazer dos testemunhantes foi/é ativo, mobilizado continuamente tal como neste evento acadêmico de lançamento do livro Pandemia e Território, que se apresenta de nova autonomia de reflexão, assumindo formas outras de narrar, expor, debater, questionar e levantar problemas.

As autoras e autores Aline Radaelli, Eliana Teles, Elielson Pereira da Silva, Esmael Siqueira, José Luís Sousa, José Roberto Cravo, José Siqueira, Jurandir Novaes, Maria Delma Brito, Raquel Mombelli, Selma Monteiro, Thiago Sabino e os organizadores – Alfredo Wagner, Rosa Acevedo e Eriki Aleixo convidam para a sessão de lançamento de Pandemia e Território, virtualmente convergindo para a Universidade Federal do Pará.

Segue abaixo o link da Live:

https://www.youtube.com/watch?v=Ynz-sw2Eoi8